O relógio da sala no seu habitual e ininterrupto tic-tac, o crepitar da lareira acesa acompanhavam as lágrimas que lhe escorriam pela cara e iam parar à almofada preta que ela abraçava como se abraça-se alguém que não via há anos.
Ela chorava, soluçava e suspirava como se o mundo estivesse para acabar. Se calhar até estava.
Ela que sempre fora contra as hipocrisias, tinha acabado de se tornar sócia do clube do fingimento, do bem parecer e do politicamente correcto.
A culpa era dela, mas não só. Era dela e do estúpido do coração que ela trazia no peito mas que na maior parte do dia lhe ocupava o lugar do cérebro.
Ela suicidou-se e agora estava a renascer dentro do molde estereotipado da sociedade em que tinha nascido.
Renasceu para uma nova vida (a velha ficava trancada dentro de uma gaveta), surgiu sem personalidade e cresceu sem se conseguir afirmar. Agora, que o processo de ‘re-crescimento’ já estava concluído ela era apenas mais um clone do que na vida velha abominara.
Mas, felizmente, houve vestígios dessa velha e saudosa vida que saltaram da gaveta e a fizeram acordar para a realidade.
Assim, quando olhou ao espelho percebeu que era bem mais do que aquilo que os outros exigiam. Agora chorava, chorava porque para o suicídio ainda não havia cura.
uou, tanta palavra cara, e praticamente sem erros xD
ResponderEliminar