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(…) -Vais ter saudades? -Não vais sequer mudar de cidade, vai ser fácil a distância. -Não vai dar para ter saudades, é isso? -Sim, é isso. (…)

Mais de um ano depois ainda não consigo aceitar que foste embora, que não te tenho por perto sempre que preciso, que não te posso ver todos os dias. Todos os dias o ciclo se repete, acordo e no momento de abrir os olhos sonho acordada, sonho que vais entrar no quarto, abrir as cortinas e gritar: ACORDA. Não gritas, mas eu acordo. Acordo para mais um dia, mais um em que o teu quarto está vazio, mais um em que o teu lugar à mesa não está ocupado, mais um em que não te posso ouvir resmungar, mais um em que o teu perfume não invade toda a casa, mais um em que o teu telemóvel não toca, mais um que não te vejo sair de casa, mais um em que sinto saudades tuas e mais um em que não tenho coragem de o dizer. Sei que à noite vais ligar, vais dizer olá, perguntar se está tudo bem e depois de uns minutos vais desligar e viver a tua, e só tua, vida. Volto a pensar em ti antes de adormecer, e se conseguir mandar nos sonhos (pelo menos tenho direito a isso), sei que a rotina se vai quebrar e que na manhã seguinte vou conseguir ouvir o teu grito.